Xi golpeia ‘o cerco’ da China pelos EUA; ministro das Relações Exteriores bate com força no ‘neo-Macarthismo histérico’
O presidente chinês Xi Jinping denunciou a tentativa ocidental liderada pelos EUA para “conter, cercar e suprimir a China”
Originalmente publicado no Geopolitical Economy Report em 8/3/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247
O presidente chinês Xi Jinping denunciou as tentativas ocidentais lideradas pelos EUA de “conter, cercar e suprimir a China”.
O Ministro das Relações Exteriores, Qin Gang, também advertiu que o governo dos EUA está seguindo um “neo-McCarthismo histérico” e que a sua “chamada ‘competição’ significa conter e suprimir a China em todos os aspectos e de fazer com que os dois países fiquem bloqueados num jogo de soma zero”.
Os líderes políticos chineses frequentemente são muito cautelosos e diplomáticos com a sua linguagem e frequentemente advertem contra a “mentalidade de guerra fria” dos EUA.
Estes comentários assertivos demonstram que Beijing está defendendo-se por si mesma e reagindo enquanto Washington trava uma nova e cada vez mais agressiva guerra fria.
“Os países ocidentais chefiados pelos EUA têm contido, cercado e suprimido a China de uma maneira completa, levantando desafios severos e sem precedentes ao desenvolvimento da China”, disse Xi num discurso de 7 de março, reportado pelo veículo de mídia estatal Xinghua.
Reconhecendo as crescentes tensões geopolíticas, Xi disse que a China “está enfrentando fortes ventos e águas agitadas no ambiente internacional”. Ele adicionou que “o ambiente externo para o desenvolvimento da China mudou drasticamente, com incertezas e fatores inesperados aumentando notavelmente”.
O Wall Street Journal assinalou que “os comentários de Xi marcaram uma saída incomum para um líder que geralmente tem se abstido de criticar diretamente os EUA em declarações públicas — mesmo que a sua liderança de uma década tenha demonstrado uma visão pessimista sobre as relações bilaterais”.
“Xi tem sido tipicamente mais comedido e vago com relação aos EUA e outros países ocidentais, referindo-se a eles como ‘certos países’ ao invés de nomeá-los explicitamente”, disse o jornal.
John Pang, uma ex-autoridade do governo da Malásia que escreve frequentemente para veículos de mídias chineses, assinalou que “diferentemente dos políticos ocidentais, os líderes chineses erram do lado dos eufemismos e indiretas quando discutem sobre ameaças externas; eles tampouco gostam muito de justificar políticas. Eu não me lembro dele ter jamais ter dito isto tão diretamente”.
Apesar destes desafios, o presidente Xi assinalou que o seu país continua progredindo: “O PIB da China registrou um crescimento anual de 5,2% nos últimos cinco anos. Como o programado, nós vencemos a batalha crítica contra a pobreza e terminamos de construir uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos”.
Xi também reiterou o seu compromisso “com a prosperidade comum para todo o povo chinês”.
Em comentários separados, a porta-voz do Ministério da Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse que “a reivindicação dos EUA de estar ‘modelando o ambiente estratégico no qual a China opera’, na verdade revela o verdadeiro propósito da sua Estratégia para o Indo-Pacífico, que é a de cercar a China”.
Ela se referia a declarações feitas pelo Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que anunciou esta política de contenção em um discurso de maio de 2022.
Hua afirmou: “a Ásia deveria ser um palco para uma cooperação do tipo ganha-ganha, ao invés de ser um tabuleiro de xadrez para uma competição geopolítica. Nenhuma Guerra Fria deveria ser reacendida e nenhuma crise no estilo da Ucrânia deveria ser repetida na Ásia”.
O Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, diz que os EUA procuram "conter e reprimir a China em todos os aspectos"
O novo Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, deu uma conferência de imprensa em 7 de março na qual ele fez comentários similares.
Ele referenciou a crise fabricada em fevereiro, na qual as forças militares dos EUA abateram um balão chinês, o qual os seus próprios especialistas reconheceram que provavelmente havia sido desviado da sua rota devido ao mau tempo.
Qin disse que o fato deste balão ter entrado no espaço aéreo dos EUA “foi inteiramente causado por uma força maior”. Ele assinalou que “nem mesmo os EUA acreditaram que o balão representasse uma ameaça física”.
“No entanto, em uma violação do espírito da lei internacional e das práticas internacionais costumeiras, os EUA agiram com uma presunção de culpa”, Qin adicionou. “Eles exageraram na sua reação, abusaram da força e dramatizaram o acidente, criando uma crise diplomática que poderia ter sido evitada”.
Assinalando que Washington “considera a China como o seu rival principal e o seu maior desafio geopolítico”, o Ministro das Relações Exteriores da China argumentou que “a percepção e as visões dos EUA sobre a China são seriamente distorcidas”.
Ele declarou (ênfase adicionada):
Os EUA alegam que buscam “superar” a China, porém eles não buscam um conflito. No entanto, na verdade, a sua chamada “competição” significa conter e suprimir a China em todos os respeitos e bloquear os dois países num jogo de soma zero.Os EUA falam muito sobre seguir regras. Mas, imagine dois atletas competindo numa corrida olímpica. Se um dos atletas, ao invés de concentrar-se em dar o melhor de si, sempre tenta fazer o outro tropeçar ou até em machucá-lo, esta não é uma competição justa, mas sim uma confrontação e uma falta!
O chamado “estabelecimento de grades de proteção” para as relações China-EUA e de “não buscar o conflito”, na verdade significa que a China não deva responder com palavras ou ações quando é caluniada ou atacada. Isso é simplesmente impossível!
Se os EUA não pisarem no freio, mas seguirem acelerando no caminho errado, não haverá grades de proteção suficientes para evitar um descarrilhamento e certamente haverá conflito e confrontação. Quem arcará com as catastróficas consequências disto?Tal competição é um jogo imprudente, cujas apostas são os interesses fundamentais dos dois povos e até mesmo do futuro da humanidade. Naturalmente, a China se opõe firmemente a tudo isto.
Se os EUA têm a ambição de tornar-se grande de novo, eles também devem ter a mente aberta para o desenvolvimento de outros países. Contenção e supressão não tornarão os EUA grandes de novo e não impedirão o rejuvenescimento da China.
O Ministro das Relações Exteriores da China foi cuidadoso ao distinguir o povo dos EUA do seu governo.
“Cada vez mais pessoas com visão e entendimento nos EUA estão profundamente preocupadas sobre o atual estado das relações China-EUA, e têm clamado por uma política racional e pragmática com relação à China”, disse ele.
Qin previamente serviu como embaixador da China nos EUA entre 2021 e 2023.
Ele relembrou carinhosamente do tempo quando ele trabalhou nos EUA e os amigos que fez lá.
“O povo estadunidense, assim como o povo chinês, é amigável, bondoso e sincero e querem ter uma vida melhor e um mundo melhor”, ele enfatizou.
Qin concluiu (ênfase adicionada):
Estou convencido de que as relações China-EUA devam ser determinadas pelos interesses comuns, às responsabilidades compartilhadas dos dois países e pela amizade entre os povos da Cina e dos EUA, ao invés da política interna dos EUA, ou o neo-Macarthismo histérico.
A China continuará a seguir os princípios propostos pelo Presidente Xi Jinping, isto é, respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação ganha-ganha, para buscar uma relação sólida e estável com os Estados Unidos.
Esperamos que o governo dos EUA escute as conclamações de ambos os povos, livrem-se da ansiedade estratégica de “inflação de ameaças”, abandonem a mentalidade de soma zero da Guerra Fria.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: